quinta-feira, 28 de maio de 2009

Vote no seu blogue de ciências favorito (este!)

O 3quarksdaily.com, um site cujos editores "apresentam diariamente os mais variados itens vindos da web nas áreas da ciência, design, literatura, actualidade, arte e qualquer outra coisa que considerem intrinsecamente fascinante”, lançou o primeiro dos seus quatro prémios anuais de melhor post publicado num blogue. Nesta edição inaugural, trata-se de eleger os melhores posts de ciências.

As nomeações estão abertas até 1 de Junho. Para nomear um post (uma entrada específica de um blogue), basta ir ao fundo desta página e publicar um comentário contendo (no texto da mensagem) o URL do post que se pretende nomear, acompanhado ou não de uma breve explicação da escolha.

Uma vez concluídas as nomeações, todos terão a oportunidade de eleger o seu favorito.

Datas a reter:
- 1 de Junho: as nomeações encerram às 00h00 desse dia (hora de Nova Iorque – 05h00 da manhã hora de Lisboa). Atenção: restam poucos dias para participar nesta fase do processo!
Nesse mesmo dia, dar-se-á início à eleição.
- 8 de Junho: a eleição encerra às 00h00 (hora de Nova Iorque – 05h00 da manhã hora de Lisboa).
- 21 de Junho: são anunciados os vencedores.

Outras informações práticas colhidas no site da 3QD:
- Tudo o que tenha sido escrito desde 24 de Maio de 2008 é elegível
- Entre 8 e 21 de Junho, o conhecido cientista e autor Stephen Pinker seleccionará o blogue vencedor entre seis finalistas.

E agora a parte mais importante: se gosta deste blog, pode nomear já um dos MEUS posts...

Este é o post que pessoalmente recomendo (na sua versão em inglês, visto que se trata de um prémio nessa língua).

terça-feira, 26 de maio de 2009

Passagem para o Brasil


Sempre ouvi dizer, na minha família materna, que o pai da minha mãe tinha emigrado em criança da Rússia para o Brasil, logo no início do século XX, onde o pai dele tinha sido “o fundador” da cidade de Nova Odessa, no estado de São Paulo. E que depois, devido a uma desavença desse meu bisavô com outros imigrantes ali instalados (no então chamado Núcleo Colonial Nova Odessa), a família tinham reemigrado rapidamente, desta vez para a Argentina, acabando por se instalar na povoação de Basavilbaso, a norte de Buenos Aires, na província de Entre Rios.

Ora, parece que foi mesmo assim, ou quase! Acabo de descobrir, num livro de 2008 intitulado Judeus no Brasil: Estudos e Notas, de Nachman Falbel, professor da Universidade de São Paulo, uma passagem sobre o meu bisavô em pessoa! Fiquei de boca aberta, devo dizer – e fartei-me de rir pensando que, afinal, a tradição oral familiar, na qual nunca realmente acreditei (a ideia de um antepassado “fundador” de cidades no Novo Mundo sempre me pareceu exagerada) não estava assim tão longe da realidade.

Não sei se o meu bisavô terá sido ou não corrido de lá pelos outros colonos, que segundo se contava na minha família tinham ficado furiosos por ele lhes ter prometido condições de vida paradisíacas no Brasil – que como é óbvio não se concretizariam –, mas a questão é que a versão histórica da história, relatada no livro de Nachman Falbel, parecendo mais realista, não é completamente diferente da que eu já conhecia desde nova.

Por um lado, faz notar Nachman Falbel, os primeiros colonos judeus que chegaram a Santos, no Brasil, a partir de 1905, vindos da Rússia – entre os quais sete elementos da minha família –, nem sempre eram agricultores: o que queriam era fugir a todo o custo os pogroms da sua terra natal.

Não gostavam da vida de agricultores e, sobretudo, sabiam muito pouco sobre o cultivo da terra – além de que o clima quente e húmido não ajudava. Talvez o meu bisavô tivesse convencido alguns emigrantes a partir com ele, dizendo-lhes que poderiam continuar a exercer a sua profissão – de tipógrafos, alfaiates, etc – e eles tenham ficado muito desiludidos? Não sei.

Por outro, Nachman Falbel conta, na página 218 do seu livro, a escandaleira que fez o meu bisavô, Shaia Hassik, com queixas às autoridades, porque a sua bagagem estava a demorar demasiado a ser-lhe entregue. E a nota de rodapé, na mesma página, acrescenta mais uns condimentos não negligenciáveis que permitem ter uma ideia da disposição de espírito do meu “ilustre” bisavô naquela altura.

Também com base na informação vinda no livro sobre as listas de passageiros dos navios que chegaram de Southampton em 1905 com os novos colonos a bordo, consegui encontrar online (em findmypast.com) o documento original do embarque de todos eles no navio Magdalena – e pude constatar que tinham zarpado a 21 de Abril.

O que confirma que faziam parte do primeiro grupo de imigrantes a chegar (em inícios de Maio) à colónia de Nova Odessa, cuja existência tinha acabado de ser oficializada precisamente nesse mesmo mês. Ou seja, embora o meu bisavô não tenha sido “o fundador” de Nova Odessa, foi de facto um dos seus fundadores efectivos...

Imagem: The National Archives, Reino Unido

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Perdigotos

Hoje, pela primeira vez em mais de duas semanas, tenho um pouco de tempo para dedicar a esta página. Nos últimos dias, tenho-me dedicado full-time a publicar artigos no PÚBLICO sobre outros genes – os do vírus da nova gripe. Diga-se de passagem que parece mentira que um genoma tão pequeno como o deste vírus, com apenas uma dezena de genes, seja tão difícil de dissecar e perceber.

Mas, no fundo, percebe-se facilmente porquê: ele nunca é exactamente o mesmo de uma pessoa para outra – e, para saber donde é que veio, é preciso construir a árvore da sua evolução genética tendo em conta um número cada vez maior de pessoas infectadas. Trata-se de um tipo diferente de “genómica pessoal”, mas que cobra imensa importância em circunstâncias de pré-pandemia como as que vivemos actualmente.

Voltando aos meus genes, o blogue da 23andme, chamado The Spittoon (O Cuspidor), de que já falei, contém artigos muito em dia, na sua secção SNPWatch, sobre os estudos genéticos relacionados com riscos (maiores ou menores) de ter doenças, que vão sendo publicados nas mais importantes revistas científicas mundiais. Deixo aqui ficar alguns dos “perdigotos” mais marcantes das últimas semanas, que fui, claro, comparando com o meu próprio ADN.

Estas potenciais relações entre uma dada mutação pontual (ou SNP) e uma dada doença ainda não estão provadas – e correspondem em geral a riscos apenas ligeiramente diferentes da norma na população geral. Mas dão uma ideia do que se sente quando não são apenas os SNP de pessoas anónimas que estamos a escrutinar – mas os nossos. Passo a citar o SNPWatch:

1 – New England Journal of Medicine (15 de Abril)
A análise conjunta dos dados do estudo de um grupo de pessoas de ascendência europeia nos EUA e na Holanda revelou que a versão A [do SNP designado pelo nome de código] rs12425791 está associada a um risco 1,29 vezes maior de isquemia cerebral [um tipo de AVC].

No fim do texto, há um link directo para o par de letras, ou bases do ADN (uma vinda do meu pai e a outra da minha mãe), que compõem o meu SNP rs12425791. Clico no link e vou dar ao meu "genotipo": AG.



2– Nature (28 de Abril)
[Os cientistas] descobriram vários SNP associados ao autismo. Todos estavam situados numa região do ADN entre dois genes, CDH9 e CDH10, que comandam o fabrico de proteínas chamadas caderinas. “Estas duas moléculas estão presentes na superfície dos neurónios e estão implicadas (...) nas ligações funcionais entre diferentes regiões cerebrais. (...) A nossa estimativa é que as variantes que descobrimos poderão contribuir para até 15 por cento dos casos de perturbações de tipo autístico na população”, diz [um dos autores] num comunicado.
O sinal mais forte veio do SNP rs4307059: comparado com duas cópias [da variante genética] C, cada cópia [adicional] da variante mais comum T fazia aumentar os riscos de autismo 1,19 vezes.

O meu rs4307059: CT. (Mensagem para os mais curiosos: decidi que a análise dos meus eventuais traços de personalidade autísticos ficaria entre mim e a minha imagem no espelho.)


3 – Archives of Ophthalmology (14 de Abril)
Os investigadores descobriram que um SNP em particular, no gene TGF-β1, estava associado à forte miopia [mais de oito dioptrias]. Cada A em rs4803455 reduzia o risco de ser muito míope (multiplicando-o risco normal por 0,67).

O meu rs4803455: AA. (Com que risco duplamente reduzido? Estranho… É verdade que não chego às oito dioptrias, e que só a partir daí é que este estudo considera que as miopias são fortes, mas ando lá perto. Portanto, não acredito muito neste resultado.)


4 – Journal of the American Society of Nephrology (1 de Maio)
Cientistas estudaram 260 pessoas que tinham tido um bypass e constataram que os que tinham um A em cada cópia de rs4680 entravam em choque mais frequentemente, quando comparados com os que tinham outros genotipos (69%, contra 57% nas pessoas AG e 46,6 % nas GG). (...) A duração do choque para além de 48 horas também era mais frequente nas pessoas com dois A (25% contra 13% para as AG 6,8% para as GG). (...) As pessoas com dois A também tinham mais problemas renais agudos. A permanência mediana no hospital após a cirurgia era maior para as pessoas com dois A (nove dias contra oito dias para as AG e sete dias para as GG).

O meu rs4680: AG (Entre duas águas, portanto.)

(Crédito imagem principal: net_efekt/Flickr)