terça-feira, 26 de maio de 2009
Passagem para o Brasil
Sempre ouvi dizer, na minha família materna, que o pai da minha mãe tinha emigrado em criança da Rússia para o Brasil, logo no início do século XX, onde o pai dele tinha sido “o fundador” da cidade de Nova Odessa, no estado de São Paulo. E que depois, devido a uma desavença desse meu bisavô com outros imigrantes ali instalados (no então chamado Núcleo Colonial Nova Odessa), a família tinham reemigrado rapidamente, desta vez para a Argentina, acabando por se instalar na povoação de Basavilbaso, a norte de Buenos Aires, na província de Entre Rios.
Ora, parece que foi mesmo assim, ou quase! Acabo de descobrir, num livro de 2008 intitulado Judeus no Brasil: Estudos e Notas, de Nachman Falbel, professor da Universidade de São Paulo, uma passagem sobre o meu bisavô em pessoa! Fiquei de boca aberta, devo dizer – e fartei-me de rir pensando que, afinal, a tradição oral familiar, na qual nunca realmente acreditei (a ideia de um antepassado “fundador” de cidades no Novo Mundo sempre me pareceu exagerada) não estava assim tão longe da realidade.
Não sei se o meu bisavô terá sido ou não corrido de lá pelos outros colonos, que segundo se contava na minha família tinham ficado furiosos por ele lhes ter prometido condições de vida paradisíacas no Brasil – que como é óbvio não se concretizariam –, mas a questão é que a versão histórica da história, relatada no livro de Nachman Falbel, parecendo mais realista, não é completamente diferente da que eu já conhecia desde nova.
Por um lado, faz notar Nachman Falbel, os primeiros colonos judeus que chegaram a Santos, no Brasil, a partir de 1905, vindos da Rússia – entre os quais sete elementos da minha família –, nem sempre eram agricultores: o que queriam era fugir a todo o custo os pogroms da sua terra natal.
Não gostavam da vida de agricultores e, sobretudo, sabiam muito pouco sobre o cultivo da terra – além de que o clima quente e húmido não ajudava. Talvez o meu bisavô tivesse convencido alguns emigrantes a partir com ele, dizendo-lhes que poderiam continuar a exercer a sua profissão – de tipógrafos, alfaiates, etc – e eles tenham ficado muito desiludidos? Não sei.
Por outro, Nachman Falbel conta, na página 218 do seu livro, a escandaleira que fez o meu bisavô, Shaia Hassik, com queixas às autoridades, porque a sua bagagem estava a demorar demasiado a ser-lhe entregue. E a nota de rodapé, na mesma página, acrescenta mais uns condimentos não negligenciáveis que permitem ter uma ideia da disposição de espírito do meu “ilustre” bisavô naquela altura.
Também com base na informação vinda no livro sobre as listas de passageiros dos navios que chegaram de Southampton em 1905 com os novos colonos a bordo, consegui encontrar online (em findmypast.com) o documento original do embarque de todos eles no navio Magdalena – e pude constatar que tinham zarpado a 21 de Abril.
O que confirma que faziam parte do primeiro grupo de imigrantes a chegar (em inícios de Maio) à colónia de Nova Odessa, cuja existência tinha acabado de ser oficializada precisamente nesse mesmo mês. Ou seja, embora o meu bisavô não tenha sido “o fundador” de Nova Odessa, foi de facto um dos seus fundadores efectivos...
Imagem: The National Archives, Reino Unido
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Interessante demais, além de coencidência, claro.
ResponderEliminarMoro em Campinas/SP/Brasil, quase ao lado da Nova Odessa de seu bisavô.