A islandesa empresa deCODEme.com, actualmente em dificuldades financeiras, decidiu oferecer aos clientes da sua principal rival, a norte-americana 23andme, um lindo presente de Natal: a possibilidade de fazer upload para o seu site dos resultados genéticos (vindos da 23andme) e de beneficiar, poucas horas mais tarde, e absolutamente à borla, de uma análise (re)feita pela deCODEme. Que boa ideia, pensei. E aproveitei logo a oportunidade.
Aconteceram então duas coisas chatas. Primeiro, o meu haplogrupo mitocondrial (a linhagem materna) mudou radicalmente. Na 23andme sou H7, na deCODEme passei para K. Segundo, fiquei de repente com a possibilidade de conhecer (aparentemente, já explico porquê) o meu risco de vir um dia a ter a doença de Alzheimer.
No primeiro caso, recebi quase imediatamente um email da deCODEme a informar que tinha havido um erro na análise e a pedir desculpas pelo incómodo. Bastar-me-ia esperar uns dias para que tudo regressasse à normalidade. Já agora, acabei de ir ver e efectivamente, o meu haplogrupo mitocondrial reverteu para H (só H, o que é menos informativo que H7).
Quanto à segunda instância, estive vários dias a adiar a decisão; confesso que tinha medo de ver o resultado para o Alzheimer. E soube esta manhã que essa foi provavelmente a melhor opção – mas por uma razão inesperada: porque com os dados da 23andme, a deCODEme não consegue calcular esse risco.
Só que quem teve a audácia que eu não tive de ir ver, deparou-se nalguns casos com resultados assustadores... e falsos! (ver aqui). Em poucas palavras, o cálculo desse risco baseia-se na detecção de várias alterações num gene chamado APOE, e como a 23andme não as analisa todas, os dados da 23andme não são transponíveis neste caso, podendo mesmo conduzir a acentuar exageradamente o risco.
Entretanto, constatei que a avaliação desse risco tinha desaparecido da minha página pessoal na deCODEme.com. Mas até aqui, a empresa não pediu desculpas pelos sustos de morte que poderá ter causado, nem deu qualquer explicação ao respeito. Acho totalmente irresponsável.
Quanto a mim, apercebi-me que fiquei muito aliviada por não ter (ainda) acesso a este tipo de dados – e percebi que, na hora da verdade, é possível que não tenha a coragem de a conhecer (a verdade) em relação a certo tipo de doenças particularmente devastadoras. Li há pouco tempo um romance, intitulado Ainda Alice (Still Alice), de Lisa Genova (neurocientista norte-americana tornada escritora de ficção), publicado em Portugal pela Caderno, sobre um Alzheimer precoce. Até aí consigo aguentar a realidade – achei o livro fantástico –, mas mais ao perto tenho medo de me queimar as asas...
Imagem: Desenho de neurónios por Santiago Ramón y Cajal, 1899
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
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